Rubens de Mendonça - por Adélia Mendonça

É com imensa satisfação que me disponho a falar da figura de Rubens de Mendonça.

Começo, reafirmando que era ele um ser humano espirituoso, brincalhão e humilde, que levava a vida de maneira lúdica e descomplicada. Tinha o poder de transformar o fardo pesado da vida em boas gargalhadas. Possuidor de uma personalidade singular, carregava, além, de um pseudônimo, Paulo Ambar, um alter ego que atendia pela alcunha de Pantaleão, o Santo do dia do seu nascimento, datado de 27 de julho de 1915, em Cuiabá/MT.

 

Por falar em Santo, o afortunado Rubens de Mendonça, que veio ao mundo filho de Estevão Anastácio Monteiro de Mendonça e Etelvina Caldas de Mendonça, se dizia ateu e, como nunca o fora, quando confrontado se dizia agnóstico. Era supersticioso, ao entrar e sair de sua casa, avançando sempre com o pé direito. Tinha medo de urucubaca e, quando no dia em que as coisas não davam certas ele reclamava: "hoje levantei com o pé esquerdo", Como podemos deduzir, um ateu pitoresco ou um agnóstico contravertido, pois era comum mandar celebrar missas pelas almas dos seus amigos Dom Francisco de Aquino Corrêa, Marechal Rondon e Eurico Gaspar Dutra, além de acender velas aos seus amigos José Barnabé de Mesquita, seu compadre Roberto Jacques Brunini e Euricles Mota, não se esquecendo do Frei Trebaud, de Ana Maria do Couto, sua amiga e prima Maí, por quem devotava grande estima, e aos seus colegas de trabalho. Finalmente, aos domingos pela manhã, acompanhado de sua filha, Adélia Maria, passava em revista, no Cemitério da Piedade, os túmulos de todos os positivistas.

O ateu Rubens de Mendonça carregava a bandeira do Senhor Divino, quando ela saía de sua casa na tarde do primeiro dia de esmolas. E, esse mesmo agnóstico trazia pendurado em seu peito as medalhas de Nossa Senhora da Conceição e de São Judas Tadeu, os seus Santos de devoção.

Foi um homem de paz, de uma cordialidade marcante, e quando solicitado atendia de forma amiga a todos. Foi essencialmente pacífico e só ia às lutas para os combates literários. Mas, pasmem, só andava armado e seu revólver, graças à Deus, só era usado na noite de 31/12, para saudar o Novo Ano.

Tinha uma mania, deixava grafado diariamente em sua caderneta e, por três vezes a expressão: "Hei de Vencer!". O que será que ele pretendia com esse ritual? Acharia pouco o que estava produzindo? Não sabemos, apenas, suspeitamos.

Amigos, foram tantos em quantidade e qualidade que a mim é imperioso lembrar do seu conselho: "Mais valem os bons amigos a um baú de tesouro".

O nosso cotidiano jamais se livrou de suas críticas didáticas e bem humoradas. Em alguma circunstância vivida, em que eu reclamava para a mamãe que o papai estava me enrolando, ela sorria e me dizia: "você não sabe o que é ser enrolada". Tempos depois, encontro este soneto dele para a sua namorada Ivone, a mamãe, datado de 03/07/1937, quando ele tinha, apenas, 22 anos, de idade.

 

 

SONETO

Enfim terás que casar comigo/E viver só de sonho e ventura/ Eu serei sempre seu amigo ,/ E tu serás a amada criatura/
Eu viverei qual Tasso, o bardo antigo/Cantando sempre a tua formosura/E tu Ivone, trarás ao nosso abrigo/O brilho de uma estrela que fulgura/
De beijos passaremos o dia inteiro/Vivermos de amor mas, sem dinheiro/ Esperando seja lá o que Deus quiser/ E assim, vamos passar a primavera/ Tu farás bolo e eu ficarei à espera/ fazendo versos mas, sem papel.

 

Casaram-se, num 27 de julho de 1954, exatamente, 17 anos, de um longo noivado.

Eu sou imensamente feliz, por ter sido fruto desse casal perdidamente, apaixonado.

 

 

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